Para entender a obra de um artista acho que antes de tudo é preciso conhecer sua vida, entender onde e como foi educado, em que sociedade está inserido, por isto apresentamos sempre um pouco mais da vida de nossos artistas.
Hoje vamos falar de Graciela Scandurra, uma das artistas que esta concorrendo inclusive a artista do mês de Fevereiro.
Conforme as próprias palavras da artista " Meus pais, imigrantes italianos vieram para América logo depois da guerra, moraram em São Paulo durante dois anos, onde nasci no dia 31 de março de 1955 – Logo depois, aos 6 meses do meu nascimento, voltaram para Buenos Aires Argentina, onde cresci, estudei e me formei, não somente como profissional, também como pessoa , com a minha vida baseada nas experiências e histórias que tive desde que era criança. Passei dificuldades sendo filha de imigrantes italianos para falar corretamente o espanhol na escola e passei grandes problemas econômicos. Meu pai sentia muitas saudades de seu país, voltando várias vezes para lá após a guerra ter cessado, mas já não conseguia ficar lá definitivamente, acabando , sempre , retornando à Argentina com a sua família.
De criança, eu era tímida, retraída. Quando tinha apenas 3 ou 4 anos assisti a algumas aulas de dança, mas somente algumas. Guardo fotos de algumas lembranças.
Trabalhei nos negócios dos meus pais, ajudando eles desde criança até toda a minha adolescência. Neste último período comecei a ficar mais sociável e consegui me relacionar com as pessoas de uma forma mais alegre, durante as horas em que trabalhava as minhas colegas vinham me visitar e estudávamos nos intervalos que apareciam enquanto atendia os clientes (tínhamos um bar – pizzaria – sorveteria)
Quando escolhi estudar arquitetura, a primeira resposta da minha família foi que essa era uma Carreira para homens. Os primeiros anos foram muitos difíceis, mas depois, eles se acostumaram e me apoiaram. No ano de 1973 entrei na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, estudava de noite e trabalhava de dia, já tinha saído do trabalho familiar, pois buscava a minha independência. Na faculdade tive professores bons e ruins, todos marcaram muito, em base na experiência que adquiri ao conviver com eles , decidi comigo que lá pra frente eu ensinaria ,seria professora , despertaria uma luz nas pessoas às quais daria aula, para que elas pudessem se iluminar.
Vivenciei todo o período da ditadura militar sem saber que existia outra coisa, pois cresci no meio da repressão. Formei-me em 1980, e a partir dali participei de muitos seminários, palestras e cursos porque sentia que me faltava muito para aprender. Meus dedos estavam duros, limitados, pois na escola do primeiro ciclo tinham castrado toda a criatividade que poderia ter.
Em 1983 fiz a minha primeira viagem de estudos para a Europa, descobrindo outras formas de se expressar e viver, descobri um mundo diferente. Ao voltar começou a minha relação com as artes, primeiro sendo professora de Historia da Arquitetura e das Artes na Universidade, eu ensinava a forte relação existente entre elas; Depois comecei a desenhar, não somente em base na arquitetura, como também ao ser humano em si, que foi e é o eixo de todo o meu trabalho, na arquitetura, na educação, nas artes...........
Estudei em MEEBA – Associação de formados das Escolas de Artes, com diferentes professores: Alberto Soria, César Clodion, Juan Carlos Valle, Carlos Terribili, Osvaldo Dubati. Pelas noites ía desenhar croquis a Estímulo de Belas Artes, outra entidade que ficava no centro. Durante o dia trabalhava no meu escritório de Arquitetura.
Em 1986 viajei para Sidney Austrália,os meus planos eram ficar um tempo longo. Meses antes da minha partida fiz o retrato de meu pai, com fotos do seu sorriso. Quase sem acabar, levei o trabalho como presente aos meus irmãos que moravam lá desde o ano de 1976. (a viagem deles foi muito marcante para mim, sentia muita falta da presença deles.)
Em Austrália, apenas arribada, fui convidada ao Sidney Technical College para realizar experiências com diferentes materiais.
Pouco tempo depois voltei para Buenos Aires pois estava apaixonada pelo homem que depois foi o pai dos meus filhos.
Em 1987 participei da criação de um mural na estação de trem em Flores,trabalho baseado no livro de Alejandro Dolina: “Sonhos do Anjo cinza” idéias e coordenação de Carlos Terribili.
Tinha tanta sede de fazer e aprender, que nesse momento, a MEEba não era suficiente, me inscrevi como aluna no atelier do mestre Aurélio Macchi. Também fiz cursos com os mestres Antonio Pujia (trabalhos em ceras); Juan Carlos Distéfano ( resinas )e Roberto Paez ( trabalhso com tintas )..
Fiquei no atelier de Macchi até o nascimento do meu primeiro filho, Maximiliano, quem produz em mim todas as idéias para criar o projeto “A importância das artes na educação das crianças”, que depois desenvolveria durante os anos seguintes.
No ano de 1990 também realizei a primeira exposição individual , situada no Salão Branco do Teatro Roma de Avellaneda, cidade onde morava nesse anos – ali ficava a mina casa-atelier, quando a comprei, a remodelei,nessa casa cresceram os meus filhos.
Realizei propostas constantes para levar as artes para a educação, para o teatro, para as escolas, para as empresas, nos eventos, em Buenos Aires e também em outras cidades. Participei durante muitos anos na Feira Internacional do livro em Buenos Aires – A minha filha mais nova, a Ailén,hoje atriz, nasceu no período em que acontecia uma delas.
Apresentei nos teatros do Museu Enrique Larreta – teatro Liberarte na capital.
No teatro Roma da cidade de Avellaneda – Também uma obra para crianças: “O pintor” baseado na proposta “Espetáculo – Experiência: “Arte e Conto” Idéia – produção e cenografia.
Consegui chegar nas crianças ,nos jovens e também nos professores, emocionando com a proposta ”A arte é para todos”
Depois de várias exposições, em 1992 o meu projeto foi aceito e ganhei espaço para expor no Centro Cultural General San Martín, onde realizei uma mostra em homenagem ao indígena americano pelos 500 anos da invasão dos europeus .Durante os preparativos dessa exposição, nasceram as minhas primeiras árvores-esculturas.
Essa exposição marcou um momento muito importante na minha obra, pois tudo se transformou a partir dali em natureza e movimento. Enquanto isso, acontecia a poda devastadora de árvores pela cidade, eu chorava, impotente, recuperava alguns galhos e os transformava em esculturas.
Participei de muitas exposições coletivas, ganhando prêmios e destaques – também fiz muitas outras individuais.
No ano de 1995 fui convidada para participar em Arte BA – na Recoleta de Buenos Aires –
A escultura que fiz tinha 2,50 m. de altura, as raízes saiam da terra “Convirto-me em galho”
Ministrava aulas no meu atelier e também a partir do ano de 1999 dava aulas na escola de arte Gente de Arte de Avellaneda, onde em 2000 criei as oficinas permanentes de croquis com modelo vivo, que continuam ainda com a equipe que me apoiou nesses anos, desde o inicio.
Em 2000 estive na Escola Superior Ernesto de la Cárcova, realizando um curso de Técnicas na pintura ministrado pelo Miguel A. Bengochea.Senti um prazer indescritível de participar, mas tive que abandonar as aulas.
No ano de 2003 tive que deixar a Argentina e vim morar em Curitiba. Nesse mesmo ano fui convidada para expor no Espaço de Exposições do Parque Barigui e fiz a primeira apresentação das minhas obras no Brasil com ótima aceitação do público.
Em 2004 ministrei cursos de escultura no SESC da Esquina com oficinas de argila no foyer e no final desse mesmo ano, depois de apresentar o projeto “arte em arame dentro da arquitetura da Opera de Arame”, fui aceita e realizei a exposição que foi chamada “Dança pela justiça” ,a partir desse momento surgiu uma série de danças buscando a liberdade de movimento e formas.
Expus na Ópera até janeiro de 2005 e depois novamente em 2008 e 2009 realizando intervenções com grande acolhida e participação do público.
No ano de 2007 apresentei uma exposição individual no espaço cultural Mokiti Okada em Curitiba: “ainda floresce o Ipê!” instalação esculturas e gravuras – Homenagem ao Ipê amarelo.
Desde 2003 participo da entidade UBM União Brasileira de Mulheres , colaborando com experiências da minha vida e com a proposta de sempre, “Arte para todos”, tão importante para transformar e melhorar o mundo em que vivemos.
Neste ano, estive a cargo da coordenação do projeto a nível nacional “Mulher: mais política mais poder”, na qual ministrei uma palestra - que logo será publicada.
A mulher e o movimento da natureza são temas fundamentais na minha obra. A busca pela liberdade externa e interna.
Em 2006 realizei um curso de gravura: técnica linóleo com Michelle Blair, a partir dali, participei das oficinas permanentes de gravura na Universidade Federal do Paraná dirigida pela artista Dulce Osinski, até 2009. Assim, faço gravuras com técnicas mistas.
Também organizei nestes anos encontros culturais no meu atelier, promovendo o intercâmbio entre os artistas e suas obras.
Ministro cursos, palestras, workshops, sempre com a convicção de despertar a criatividade nas pessoas, acho que é um dos objetivos fundamentais do meu trabalho.
Em 2010 fui convidada para participar de um evento organizado pelo SESC da Esquina ‘Ato performático “As asas são para voar” ’, uma conjunção de vídeo – instalação, realizada junto com Ailén Scandurra (atriz) e Evandro Scorsin (cineasta), performance baseada nos textos do livro de Richard Bach.
Desde 2009 participo de grupos de biodança com discípulos de Rolando Toro (o criador), isso dá uma soltura ao meu corpo, soltura que antes somente se encontrava nas minhas esculturas-danças.
Nestes últimos meses, realizei um curso com Mauro Zanata “Comédia para Atores e não atores” que está produzindo um impacto muito importante em mim, pois estou redescobrindo que todo o material acumulado durante a minha vida é o mais importante que tenho, o crescimento está acontecendo no dia-a-dia e sinto que tenho muito para fazer, por mim e pelos outros!
Estou ansiosa por produzir, sedenta por ensinar, por dar. Isto que estou trabalhando agora. Dar .................e me dar!
Dezembro 2010"
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